um problema com a ideia do atleta imbatível. O imbatível está ali para ser batido, senão não tem graça.
Talvez por isso Andy Irons tenha sido tão reverenciado, enquanto durou como mito. Por um punhado de temporadas, ele deu a graça que faltava ao esporte. Nada mais interessante que uma briga entre iguais que vivem o auge da técnica.
Semana passada, a monotonia me pegou pelo pé de novo. Eu estava afogado no trabalho, sem tempo para ver os embates dos Supertubos de Portugal ao vivo, quando recebi mensagem do amigo Bezinho: “Ninguém
segura mais... 10 x Kelly!”.
Senti vergonha de, ali, naquele momento, não ter ficado feliz com a notícia. Meus amigos comemoravam o triunfo do americano na troca de e-mails, e eu só pensava em como seria bom para o campeonato – e para os nervos de atletas e torcedores - uma vitória de Jordy Smith.
Vou mais longe: o destino não poderia errar a ponto de dar a Slater o histórico décimo título antes de Pipeline. Vai ser difícil isso acontecer, mas o esporte mereceria coroar sua maior estrela no palco mais nobre, em condições inesquecíveis e com uma boa dose de emoção e tensão.
No fim do dia de trabalho, corri para os vídeos por demanda para tentar entender o óbvio nas ondas portuguesas: o quase decacampeão é o melhor e ponto. Desconfiar do resultado é como procurar “pêlo em ovo” – como outro dia disse um candidato à presidência da República.
Mas vídeos por demanda não querem mesmo dizer muita coisa. Porque ali eu realmente tive dúvidas sobre a vitória do melhor surfista da história. Jordy surpreendeu com um superman num ano em que Slater já venceu duas baterias tirando da cartola alley-oops inesperados. Slater fez um dever de casa perfeito. Fiquei imaginando se ele não teria levado um bônus pelo histórico escolar irrepreensível.
Não importa. A esta altura da vida, é quase impossível julgá-lo. Um adversário como Chris Davidson bate palmas e sorri quando disputa com ele uma vaga na final. Jordy, seu adversário na corrida pelo título, deixa escapar que é uma honra disputar o caneco com o cara. O mais orgulhoso dos mortais diria o mesmo.
Admito: quando eu receber o e-mail derradeiro dos amigos, com o número 10 estampado em letras garrafais seguido de várias exclamações, me junto aos amigos na comemoração. O décimo título de Slater, muito mais
que uma conquista pessoal, é uma vitória do esporte.
Afinal, achamos o nosso rei. E o coroamos devidamente.
Em tempo: falando em grandes conquistas, a revista Fluir festeja nesta semana 300 edições. Parabéns para a revista de surf mais importante da história do Brasil.
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